quarta-feira, 19 de março de 2008

Compaixão e Moral entre macacos - retirado da veja on-line

A moral dos animais
Gestos de solidariedade e gratidão sãocomuns também entre alguns primatas
Ajudar uma pessoa que está em apuros, ser grato a quem presta algum tipo de favor, fazer as pazes após uma briga – gestos como esses são inerentes ao ser humano, resultam de seus valores morais e éticos. Por isso mesmo, foi com surpresa que os cientistas descobriram que eles também são comuns entre alguns tipos de primata. Os chimpanzés não sabem nadar, mas se arriscam nos tanques dos zoológicos tentando salvar seus colegas. Os macacos rhesus, submetidos a experiência na qual, para obter comida, tinham de puxar uma corrente que dava choques elétricos em seus companheiros, preferiam passar fome. Muitos biólogos acreditam que esse tipo de comportamento, entre os animais, é resultado da mesma corrente da evolução que produziu o senso de moralidade dos seres humanos. A moral e a ética, que para a filosofia são produto da inteligência e da capacidade de raciocínio humanas, na verdade teriam sido gravadas em nosso DNA durante o processo de evolução da espécie.
O maior defensor dessa tese é o primatologista holandês Frans de Waal, que lançou no fim do ano passado o livro Primates and Philosophers: How Morality Evolved (Primatas e Filósofos: Como a Moralidade Evoluiu). Segundo De Waal, ao longo da evolução, os animais que formam comunidades tiveram de imprimir alterações em seu modo de agir para que a vida em grupo seguisse harmoniosa. Essas alterações, de acordo com sua tese, resultariam num conjunto de comportamentos no qual também se baseia a moralidade humana. No fim do ano passado, o biólogo Marc Hauser, da Universidade Harvard, colocou lenha na fogueira ao lançar o livro Moral Minds (Mentes Morais). Nele, o cientista afirma que o cérebro humano tem um mecanismo geneticamente desenvolvido para adquirir regras morais.
Nos últimos anos, a tese da moralidade produzida através da evolução foi alvo de pesadas críticas por parte de psicólogos, filósofos e mesmo alguns biólogos. Agora, começa a amealhar mais adeptos. "Não tenho dúvidas de que compartilhamos alguns padrões de comportamento com os chimpanzés", diz o filósofo americano Philip Kitcher, da Universidade Columbia. Em meio à polêmica, o desafio é desvendar o mistério das semelhanças no modo de agir entre homens e primatas no que diz respeito ao julgamento do que é certo e errado.